Comunidade TOC

Comunidade TOC
Fóruns de discussão de assuntos profissionais dos Técnicos Oficiais de Contas

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

TESTEMUNHOS no CAMINHOS DA MEMÓRIA

TODOS RETIRADOS DO CAMINHOS DA MEMÓRIA CLICAR NO NOME PARA LER TEXTO COMPLETO


Julieta Gandra in memoriam (1917-2007)

"Faleceu recentemente Julieta Gandra, resistente antifascista e lutadora pela independência de Angola, do que só hoje tive conhecimento. A médica Julieta Gandra foi presa em Angola pela PIDE em 1959, sob a acusação de pertença a movimentos ilegais e «subversivos», o MPLA e o PCP. Foi condenada no 1.º julgamento político do nacionalismo angolano moderno, conhecido como «processo dos cinquenta» e deportada para a prisão de Caxias em Lisboa (sobre os movimentos independentistas vd. aqui).
Anos depois, e também devido aos graves problemas de saúde por que passou na cadeia, seria considerada "Prisioneira de Consciência de 1964" pela Aministia Internacional (sobre o que é um prisioneiro de consciência vd. aqui). Esta atenção internacional obrigou a ditadura salazarista a libertá-la pouco depois. A este propósito recomenda-se o texto Julieta Gandra - Conspiradora de Esperança, de Diana Andringa.
Aproveita-se ainda para reproduzir um texto que nos chegou de homenagem a Julieta Gandra, por Adolfo Maria, agradecendo publicamente ao seu autor:
"A morte de Julieta Gandra não foi notícia
Não foi notícia, na comunicação social portuguesas a morte de Julieta Gandra, a médica portuguesa incriminada pela PIDE em 1959 e condenada no primeiro julgamento político do nacionalismo angolano moderno, o chamado «processo dos cinquenta», onde a par ..."



Maria Natália Teotónio Pereira

"Maria Natália Duarte Silva Teotónio Pereira, originária de uma família burguesa típica, nunca aceitou os valores ditos tradicionais que quiseram impor-lhe. Casou-se pela primeira vez com dezasseis anos e divorciou-se alguns anos mais tarde. Voltou a casar-se, em 1951, com Nuno Teotónio Pereira, ela agnóstica e ele católico, numa igreja, mas com ritual próprio para situações deste tipo. Como não é difícil imaginar, foi muito negativa a reacção da tradicionalíssima família Teotónio Pereira ao ver um dos seus membros casar com uma jovem divorciada e não católica. Mais tarde, Natália viria a converter-se ao catolicismo.

Concretamente por influência da campanha de Humberto Delgado..."

Viriato da Cruz

"«As leis do condicionamento industrial e as pautas aduaneiras os industriais de Portugal, freando a actividade dos industriais de Angola. Existe um controlo absoluto em toda a industria e todo o comércio de Angola, visando, fundamentalmente, manter Angola em situação de perpétua dependência económica em relação a Portugal e as potências imperialistas.

O colonialismo inoculou, pois, em todo o organismo de Angola, o micróbio da ruína, do ódio, do atraso, da miséria, do obscurantismo, da reacção. O caminho em que nos vêm obrigando a seguir é, portanto, absolutamente contrário aos supremos interesses do povo angolano: aos da nossa sobrevivência, da nossa liberdade, do rápido e livre progresso económico, da nossa felicidade, de pão, terra, paz e cultura para todos.»

Assim analisava a situação angolana, em Dezembro de 1956, Viriato da Cruz, um dos fundadores do MPLA e seu primeiro secretário-geral. O nome do Movimento surge, aliás, no texto que citamos, em que escreve..."

in memoriam - Joaquim Pinto de Andrade (1926/2008)

"Ontem, ao fim do dia telefonaram-me: "Morreu o Joaquim." Morreu Joaquim Pinto de Andrade. No meio da crónica. Da sua crónica. Vão dizer: ele era angolano. E era-o. Ninguém conheci, dos pais da nacionalidade angolana, que pudesse dizer o mesmo que ele: não feri o meu país. Ele foi a coragem serena que lhe valeu prisões durante a Angola colonial, ele foi a fraternidade angolana quando o país se dilacerou em guerras civis, ele foi a honestidade quando Angola se ofuscou de falsa riqueza. Ele foi o angolano perfeito em tempos terríveis. E eu sei porquê: ele era um meteco. Um cidadão do mundo.

Eu era um adolescente e o Joaquim Pinto de Andrade era um padre exilado..."



Bento António Gonçalves (1902-1942)
"Um texto de Fernanda Paraíso (*)

Há 66 anos morria no, Tarrafal, Bento António Gonçalves, secretário-geral do PCP desde 1929. A sua morte ocorreu a 11 de Setembro de 1942, conforme indica o director do Campo, capitão Olegário Antunes, numa nota enviada ao director da PVDE. Nessa nota pode-se ver que Bento Gonçalves terá falecido às 19 horas e 30 minutos do dia 11, «vitimado por febre biliosa hemoglobinúrica» (IANTT, SPS- 1664 - NT 4318 - f.36).

A esse respeito escreveu Manuel Francisco Rodrigues, prisioneiro no Tarrafal de 1941 a 1945:

«E é este homem, glória do Trabalho Português, este artista por excelência, que agora está dentro do caixão, amarelo, em decomposição já, morto pela biliosa, executado pelo carrasco mosquito em nome da ditadura … A morte é um imperativo categórico, o fim inevitável da vida. Todos os seres humanos caminham para essa interrogação sepulcral. A morte não deve, pois, causar-nos espanto … mas este homem não morreu … este homem foi assassinado!… Foi vítima de um crime de homicídio premeditado porque só veio para o Tarrafal da Morte para morrer!… - E porquê?… Qual fora o seu delito?…
Era membro de um partido político de trabalhadores, cujos meios se podem discutir e criticar, mas cujo fim era a paz social pela garantia a todos os seres humanos duma vida digna, alegre e feliz! … E esse desejo de paz abrangia toda a gente, não era um exclusivo, pois até os próprios que o mandaram assassinar nada perderiam se a miséria, a indigência e a ignorância desaparecessem da superfície da Terra…»
(Tarrafal, aldeia da morte, o diário da B5, Lisboa, 1974, pág. 95)..."

Maria Ângela Vidal Campos

"Nasceu no Porto, em 5 de Setembro de 1926, no ano em que um golpe de Estado militar derrubou a I Republica portuguesa, filha de um comerciante, proprietário de uma loja de lanifícios na Rua de Santa Catarina, na baixa portuense, e de uma professora primária que faleceu muito cedo, quando Ângela era uma criança.

Em casa, segundo diria Ângela, coexistiam duas correntes que a marcaram na infância e primeira adolescência. A da madrasta, católica praticante, embora também se dedicasse ao espiritismo, que foi uma segunda mãe para Ângela e a influenciou, nomeadamente, no sentido de fazer a primeira comunhão. Quanto ao pai, era um republicano agnóstico e anticlerical, que lia muito literatura francesa e acreditava na educação inglesa, não deixando de ser severo e disciplinador.

Foi através dele que, por volta dos treze anos, Ângela acedeu ..."

Maria Eugénia Varela Gomes

"Filha de várias gerações de militares, quer por parte da mãe, quer por parte do pai, contrariando o horror à política, cultivado por tradição de família, descobriu por si própria a sua dimensão mais nobre: a preocupação com as pessoas, sobretudo as mais desfavorecidas. Por elas desceu ao inferno dos bairros mais miseráveis de Lisboa, onde os operários vendiam o próprio sangue para pagar a renda da barraca que lhes servia de casa, forçou burocracias, escancarou portas para acompanhar e apoiar doentes e famílias no hospital de Santa Maria, fez seu o quotidiano dos operários qualificados da BP em Cabo Ruivo.

Por onde passou procurou pessoas, vítimas de injustiças e flagelações iníquas, inscreveu o seu nome na PIDE, pela recusa activa e militante em ser o que a ditadura pedia a uma assistente social: «a gota de óleo na engrenagem», teceu uma rede apertada de causas e de afectos que sempre a acompanhou,..."

Uma entrevista a Francisco Martins Rodrigues (3)
1ª parte
2ª parte
3ª parte

"A entrevista que aqui se publicará em três partes foi efectuada no final de Janeiro de 2008, pouco antes de Francisco Martins Rodrigues falecer, vítima de cancro. Martins Rodrigues acedeu a percorrer os principais momentos do seu trajecto político até ao 25 de Abril, tal como já tinha feito numa conversa com Carlos Morais, bem como em inúmeros textos de reflexão e memória que foi escrevendo ao longo da vida.

Nascido em Moura, em 1927, Francisco Martins Rodrigues começou a interessar-se pela política na sequência da prisão do seu irmão José Leonel, vindo posteriormente a ingressar no MUD–Juvenil e no PCP. Fez parte do Comité Central e da Comissão Executiva deste partido a seguir à famosa evasão da cadeia de Peniche a 3 de Janeiro de 1960, da qual tomou parte. Nos anos seguintes entraria em ruptura com o PCP, fundando a FAP e o CMLP. Torna-se então na principal referência teórica do maoísmo desta primeira fase. Em Janeiro de 1966 é preso pela PIDE e condenado a dezanove anos de cadeia. Permanecerá nos calabouços da ditadura até ao dia 27 de Abril de 1974. Posteriormente, fez parte do PCP(R) e da UDP, de onde viria a sair, em meados da década de oitenta, para constituir o colectivo Política Operária."

Sem comentários: